Restos de Colecção: Cinema Europa

20 de junho de 2016

Cinema Europa

Em 14 de Fevereiro de 1931 foi inaugurado o “Europa Cinema”, depois de inicialmente se ter pensado em chamar de Cinema “Astória” , localizado na esquina da Rua Almeida e Sousa com a Rua Francisco Metrass no Bairro de Campo de Ourique, em Lisboa. Era propriedade de José Dionísio Nobre, e o seu projecto ficou a cargo do arquitecto Raúl Martins, e viria a ser uma das grandes salas de cinema de Lisboa.

O “Europa Cinema” inaugurado em 14 de Fevereiro de 1931

  

A sua sala, traçada em forma trapezoidal e dotada de tectos de masseira pintados em azul e prata, que contrastavam com os tons das paredes em verde mate e ouro, possuía uma boa acústica que se exigia dos espaços que aderiam ao cinema sonoro. A boa visibilidade também estava incluída no desenho da sala de projecção, que se desenvolvia por três pisos, sendo o primeiro a plateia; o segundo correspondia ao primeiro balcão e seis camarotes de cada lado, como também o bar; e por fim, o terceiro piso que correspondia ao segundo balcão e onde se encontrava a cabine. Ao todo esta sala conseguia acomodar 878 pessoas.

 Cinema Europa.9

Este Cinema, foi projectado de modo a poder ser ampliado, o que aconteceu em 1936 quando sofreu grandes alterações, com a supervisão do arquitecto João Carlos Silva, quer na fachada como também no interior, vendo reduzida a lotaçãopara 812 lugares+ lugares de camarote, de modo a acomodar melhor o público.

Sala inicial do “Europa Cinema” ainda com cadeiras de madeira

 

Sala de cinema já alterada, redecorada e com cadeiras mais confortáveis

Planta deste primeiro “Europa Cinema” e preçário de 1953

Programa para a temporada 1953-1954


gentilmente cedido por Carlos Caria

Em 1957 este cinema foi demolido, e no seu lugar foi construído um novo Cinema, agora chamado simplesmente de “Europa” propriedade da “Sociedade Administradora de Cinemas, Lda.”, do major Horácio Pimental, proprietária, igualmente oCine-Teatro Monumentale doCinearte”. Desenhado pelo arquitecto Antero Ferreira, foi inaugurado em 28 de Março de 1966, e a sua fachada incluía uma escultura em alto-relevo de autoria do escultor Euclides Vaz.

Novo “Europa” em fase de acabamentos e escultura em alto-relevo de autoria do escultor Euclides Vaz

   

 

O novo Cinema “Europa”, com 843 lugares, foi oficialmente inaugurado a 28 de Março de 1966, com a presença do Ministro das Corporações e do Secretário Nacional de Informação,  com a estreia do “III Festival de Arte Cinematográfica de Lisboa” e “I Festival de Animação” com a exibição do filme “Muriel” de Alain Resnais.

Depois de terminado o Festival seria exibido o filme“O Evangelho Segundo S. Mateus” de Pasolini, filme este, que só seria exibido durante 3 dias. Seguir-se-ia, em 10 de Abril, a estreia do filme do filme “3º Dia” e seleccionado para a inauguração ao público do “Europa”.

Estreado em 7 de Abril de 1966

Estreado em 10 de Abril de 1966

Mais tarde, a sala deste Cinema seria melhorada, com o projecto do arquitecto Raúl Rodrigues Lima, e com alterações significativas que se estenderam até ao bar, como também na importância atribuída ao átrio com um painel de azulejos de Fred Kradolfer, expressamente concebido para o local.

  

A cabine de projecção estava equipada com quatro máquinas, das quais duas do modelo mais recente da “Philips”, o  DP-70. O ecrã gigante tinha 16 metros de largura.

 

Estreia a 1 de Setembro de 1967

Funcionou como sala de cinema até 30 de Novembro de 1981, - ano em que comemorava o seu cinquentenário -  data em que deu por encerrada a sua actividade, com a exibição do filme “Annie Hall” de Woody Allen. Mas só duas décadas mais tarde o espaço foi desafectado dessa função. Durante a década de 80 do século XX funcionou, também, como estúdio de televisão, principalmente para concursos televisivos. 

A sua actividade cessaria em definitivo, na sequência de um pedido do proprietário - “Sociedade Administrativa de Cinemas, Lda” - em 2004, que se propunha construir no local um novo edifício, dividido entre espaços de comércio e apartamentos de luxo.

   

Em consequência desta pretensão formou-se um grupo de cidadãos o "SOS Cinema Europa". Foi um movimento informal de cidadãos, maioritariamente moradores no bairro de Campo de Ourique, que nasceu no início de 2005. Este movimento lutou pela criação de um espaço cultural público (biblioteca multimédia, auditório e sala para actividades diversas) no piso térreo do novo edifício a ser construído no local onde existiu o antigo cinema “Europa”.

                    Cartaz do movimento                                              Projecto inicial do “Edifício Cinema Europa”

 

Em Dezembro de 2010 o cinema “Europa” foi demolido e, no seu lugar. começaria a ser construído, em 2011, um edifício de 25 apartamentos, promovido pela empresa “Granvale”, actualmente concluído como se pode ver na foto seguinte.

Bibliografia: foi consultado, também, o blog “Cinemas do Paraíso”

fotos in: Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian (Estúdio Horácio Novais), IÉ-IÉ

2 comentários:

Luiz claudio kastrup disse...

Estimados senhores: não podem imaginar o prazer que me proporcionaram ao me deliciar com essa reportagem e essas maravilhosas imagens. Estou a viver no edifício cinema Europa e agora assumi a função de administrador. Pretendo resgatar a história e fotos do local para humanizar os seus halls de acesso Encontrei nessa página tudo aquilo que precisava. Um imenso muito obrigado, de coração. Nesse momento de clausura forçada já estou quase a agradecer esse malsinado e amaldiçoado Corona !
Caso tenham outras imagens ou fontes de consulta, fico sempre sedento ! Muito obrigado e parabéns por manter a memória viva de um passado que não deve ser jamais esquecido. Cumprimentos efusivos ! Luiz Cláudio kastrup (925548978 - lck@cosjuris.com)

Cristina Tomé disse...

Olá José

Obrigada pela menção que faz ao blogue "Cinemas do Paraíso".

É um privilégio saber que um verdadeiro conhecedor de muitas memórias antigas, consulte o meu blogue. Acredite...o seu é uma espécie de bíblia para mim e para muita gente.

O meu sincero agradecimento.